Apesar da carroça a qual estamos amarrados e acompanhamos, qualquer pessoa determinada pode vencer os obstáculos e obter grandes vitórias!
A metáfora da carroça, descrita no artigo anterior – Cada um tem sua carroça – nos mostra a carroça a qual estamos amarrados e como é quase impossível nos livrar dela. Além disso, quando trocamos de carroça, em qualquer ponto da viagem, levamos quase tudo que a compõe, assim como a bagagem existente nela que fomos acumulando durante os anos de nossa vida.
Porém, ela também nos mostra como algumas pessoas, mesmo amarrados em suas carroças, sujeitos a dificuldades quase intransponíveis como necessidades frustradas e impossibilidades extremas, consegue vencer tudo isso e ainda realizar obras e mudanças importantes… Em sua vida e na dos outros.
A história de um vencedor
Eu sempre fui disciplinado. Lembro-me de quando eu cursava a graduação em psicologia, sempre que algum professor dividia a sala de mais de 100 alunos em grupos de trabalho, o grupo em que eu participava era um dos mais disputados.
Noventa e cinco por cento da classe era formada por mulheres e, talvez, pelas mulheres serem mais ocupadas que os homens, ou talvez por elas se sentirem mais seguras comigo, devido a maneira em que eu tomava a frente e conduzia o grupo.
Entretanto, um dos bons motivos podia ser porque eu dividia os tópicos do trabalho entre os participantes de forma justa e igual, porém, todos os tópicos em que as pessoas mostravam resistência, eu assumia como minha parte.
Deste modo, eu sempre ficava com a maior parte deles e esse detalhe agradava muito aos participantes e à classe, então, isso se espalhou muito rápido e desde o primeiro semestre os grupos onde eu participava, atraia as pessoas.
Claro que havia as “espertinhas” que colocavam dificuldades em alguns tópicos só para se livrar deles. Então, algumas vezes, as pessoas me perguntavam se eu não me sentia bobo em aceitar sempre a maior parte dos trabalhos. Eu só respondia que não. Entretanto, a minha maneira de pensar era o que fazia toda a diferença – sempre pensei que se eu fizesse mais, aprenderia mais.
Portanto, nunca me incomodei ou reclamei por ficar com as maiores e as piores partes dos trabalhos que eram feitos em grupo.
Isso era tão interessante que, às vezes, eu ficava sem saída quando alguém me procurava para “reservar” um lugar no grupo para o próximo trabalho. Porém, o número máximo de participantes de cada grupo era definido pelos professores, portanto, eu não tinha como assegurar essas vagas.
Minha exigência
Entretanto, para participar de qualquer grupo eu sempre tinha uma exigência que não agradava a todas – O Davi sempre estaria no meu grupo – eu só ficaria no grupo se ele estivesse junto.
Davi era um rapaz tímido, acanhado e não gostava de falar, nem para o grupo e nem para a classe quando da apresentação do trabalho. Porém, era um excelente pesquisador! Lia muito e trazia sempre ótimas anotações sobre os assuntos propostos nos trabalhos. Sempre contribuía com todos com as suas pesquisas.
Muito perspicaz, ele enxergava nuances e vieses que sempre passava despercebido à maioria de todos os participantes do grupo.
Além disso, ele também lia muito. Portanto, era um excelente revisor. Conforme as partes eram terminadas, o Davi assumia a revisão e as deixava impecável, na ortografia, gramática e estilo!
Entretanto, ele era pouco participativo e não dava opiniões, a não ser quando era convocado à fazer. Assim, ele nunca era convidado para os grupos e quando, muito tímido, se apresentava e se oferecia para algum grupo, a resposta era sempre a mesma – “Estamos completos” – mesmo quando ainda faltavam elementos ao grupo.
Em suma: o Davi era um indesejado!
Entretanto, o que acontecia é que a maioria da classe via o Davi como apático e pouco útil para qualquer grupo. Porém, a verdade é que eles não sabiam explorar o potencial de trabalho do Davi.
Então, todos o dispensavam. Inclusive não era raro que no inicio de algum grupo alguém questionasse o porquê ele era obrigatório e por que ele não ficava com nenhuma parte do trabalho. Então, de forma pouco democrática, eu dizia que era minha condição para eu ficar naquele grupo e que todos iriam ver suas valiosas contribuições em breve.
Além disso, eu conhecia o Davi e sabia que ele era de vital importância para todos os membros do grupo. Assim, no final de algum tempo todos reconheciam o valor da ajuda dele.
Que me desculpem os psicólogos e estudantes de psicologia
É importante dizer, embora os estudantes de psicologia e muitos psicólogos já formados ficam um pouco ofendidos, que um grande percentual das pessoas que procuravam os cursos de psicologia, o faziam pela necessidade de resolver seus próprios problemas psicológicos.
Naquele tempo, a mais de quarenta anos atrás, o tratamento psicoterápico só estava ao alcance de ricos. Além disso, era considerado uma coisa para loucos. Portanto, “só loucos e poucos” faziam psicoterapia!
Assim, muitos saiam frustrados com o curso. Além de não terem resolvido os seus problemas satisfatoriamente, ainda era uma carreira muito difícil de iniciar. Mais ainda, na área clínica.
Além disso, a grande maioria dos formados não tinham como se iniciarem na carreira clínica. Vários eram os motivos – o rendimento do atual trabalho que não podia ser abandonado, a dificuldade de conseguirem clientes/pacientes e pela falta de oportunidade em clínicas já estruturadas – além de muitos outros.
Até hoje, é sabido que a grande maioria dos formados se encaminham para os R.Hs, magistério, vendas, etc., porém, naqueles tempos, a maioria continuava em suas antigas carreiras nos empregos que já tinham.
Quando saí da faculdade, demorei três anos fazendo cursos, especializações e a minha própria terapia, até adquirir confiança para entrar pela primeira vez em um consultório e atender meu primeiro cliente/paciente psicológico!
Ele seguiu outro caminho…
Entretanto, o Davi, apesar de sua carroça e de todas as tralhas psicológicas que carregava nela, o que não era pouca coisa, já saiu da faculdade sabendo o que faria com os conhecimentos que adquirira nela.
Ele soube explorar a necessidade das mães de manterem o controle sobre os seus filhos mesmo estando distante deles. Entendeu muito bem do que trata a PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES de Abraham Maslow e entendeu também, que a necessidade de segurança se aplica também aos familiares.
Assim, como veremos, ele aplicou de forma correta os fundamentos da teoria das necessidades humanas e comprou um berçário infantil.
Seu primeiro empreendimento
Naquele seu primeiro berçário havia oito crianças filhos e filhas de executivas. Essa quantidade de bebês era muito pouco para custear as despesas fixas e variáveis. Portanto, ele comprou por uma bagatela! A antiga proprietária estava cansada de tentar, tentar e não passar daquelas oito crianças e das dificuldades para pagar as contas no final de cada mês. Assim, estava ansiosa para se livrar dele.
Naquela época, começo dos anos 1980, todos os berçários pediam para que as mães não ligassem para eles durante o expediente, a menos que tivessem deixado a criança com alguma queixa, então, teriam direito a um ou dois telefonemas. Esses proprietários alegavam que as babás tinham muito serviço e que atender as mães no telefone as tirava do seu principal foco que era cuidar das crianças. Além disso, diziam que era pouco produtivo.
Assim, prometiam que ligariam para as mães se houvesse algum problema com sua criança, mas isso acontecia muito raramente.
Inovações
Entretanto, assim que tomou posse do berçário o Davi instituiu uma prancheta na cabeceira de cada berço e estas acompanhavam os bebês o dia inteiro, inclusive na sala dos brinquedos. Uma para cada criança,
Comprou mais um telefone e durante algum tempo treinou as babás para que a cada 15 minutos elas relatassem as atividades – delas com cada crianças e também as atividades de cada criança – embora fosse uma atividade nova, as babás não demoraram muito para entender o método de anotação nas pranchetas/planilhas.
Eram planilhas simples, porém, naquela época ainda não existiam micros computadores e muito menos celulares, portanto, quaisquer controles eram feitos através de relatórios e planilhas manuais. Portanto, não havia outra alternativa.
Quando as babás estavam treinadas e os relatórios ficaram satisfatórios, ele fez uma reunião com as mães e as autorizou a ligarem para o berçário sempre que quisessem ter noticias dos seus bebês.
Foi um sucesso! Algumas mães ligavam pouco. Porém, a maioria ligava quase de hora em hora e ficavam satisfeitíssimas em ter noticiais de seus filhos. Mais ainda, aquelas que deixavam os bebês adoentados, febris ou com medicação a ser tomada.
Além disso, eles tiravam cópias do “Diário” de cada bebê e os entregava para as respectivas mães de cada um deles no final do dia quando elas iam busca-los.
Grande inovação! Um sucesso!
Ele continuou empreendendo
No início do ano seguinte ele contabilizava 29 bebês matriculados em período integral e oito em meio período, muitos já eram remanescentes do ano anterior. Porém, havia muitas carinhas novas e muitas mães satisfeitas.
Dois anos depois, o Davi já tinha duas novas unidades em bairros chiques de São Paulo, inclusive com hotelzinho à noite nas sextas, sábados e domingos, para que os pais tivessem um lazer tranquilo.
Assim, dez anos depois o Davi era um empresário de sucesso no ramo do ensino infantil, com mais de dez unidades; Também no ensino de idiomas, com mais de trinta unidades e também no ramo alimentício, onde tinha, junto com um sócio americano, uma rede de lanchonetes na Flórida, Estados Unidos, com mais de três dúzias de casas.
Porém, é preciso lembrar-se de onde ele veio e quem era ele. Tratava-se de uma pessoa com muitas amarras e em sua “carroça” havia um pai controlador e uma mãe que mais se parecia com uma “ordenança” do seu pai. Sua carroça também era cheia de tralhas psicológicas, como: timidez, medo de falar em público, fobia social, e uma personalidade oprimida pelos pais.
Assim, juntos os pais dele, faziam com que ele, filho único, seguisse os padrões de uma educação rígida e determinística que quase o transformou em um ser triste, apático e conformado em ser ninguém. Porém, segundo o próprio Davi, seu maior desejo era mostrar para seus pais que ele não era um “traste”, como eles o tratavam.
Então, com muita força interna, disciplina, dedicação, com atitudes positivas, com vontade de provar, com muito trabalho que podia ser alguém, ele conseguiu impor suas ideias e vencer todos os obstáculos que foram colocados sua frente…Apesar da sua carroça!…
Denival H Couto – Psicólogo e Terapeuta – CRP: 06/17.798-SP
Atendo presencialmente em São Paulo nas zonas sul, oeste e leste e também ONLINE para todo o Brasil e exterior em língua portuguesa. Com 38 anos de experiência nas abordagens TCC – Terapia Cognitiva Comportamental e Terapia Fenomenológica Existencial.
“Meu objetivo é ajudar os meus pacientes a encontrar e quebrar as barreiras que atrapalham o desenvolvimento do completo potencial de cada um, assegurando uma vida mais produtiva, mais confiante, com muito mais qualidade, levando-os ao autoconhecimento, autoaceitação e melhorando a autoestima, assim como à compreensão e aceitação do outro.”